Ninguém conseguia entender minha gritaria, eu simplesmente tinha cansado da dor de cabeça causada pelo cabelo esticado em duas tranças insanas que minha mãe levava longos minutos fazendo.
Era o ritual de tortura matutina: pente entrando, abrindo veredas da testa à nuca. Estica, estica, estica e enlaça à esquerda. Estica, estica, estica e enlaça à direita. Amarre nas pontas uma fita colorida ridícula e exponha sua filha aos puxões, ameaças com tesoura e musiquinhas bizarras.
Nesse dia, eu cansei, me rebelei, desatei as fitas, afrouxei os enlaces e soltei uma juba descomunal em sala de aula. Mas, imediatamente, as dores cessaram! Foda-se se chamaram a diretora, se tentaram me pentear novamente, se eu chutei muitas canelas, se fui posta de castigo, se chamaram minha mãe, se tentaram me doutrinar, subornar, coagir. Nada deu tanto prazer quanto o cabelo rebelde balançando alto, medusa pós-moderna, segura e ameaçadora.
Jurei nunca mais me comportar, conformar, diminuir, estranhar. Parti para o confronto, para a rebeldia fundamentada, para os olhos ferinos e a língua afiada. De dentro do quarto de empregada, nunca mais se ouviu o choro matinal…
(DENISE HOMEM)
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