30 de mar. de 2011

Ser negro no Brasil hoje

Como a ética enviesada da sociedade brasileira desvia o enfrentamento do problema negro

Frequentemente ouço as falas políticas disfarçando o problema negro brasileiro com a máscara da pobreza, em que 31% são brancos e 79% são negros. As realidades não são as mesmas, pois mesmo quando ascende na escala social o negro continua a ser discriminado, só que de forma mais sutil e covarde, contrariando o senso vigente de que riquezas são diferenças. Como o trabalho do negro sempre foi essencial à manutenção do bem-estar ocioso das elites, firmou-se um pacto de gestão social dessa classe sob uma ética conservadora da desigualdade. As arraigadas convicções escravocratas criaram estereótipos que ultrapassam os limites do simbólico e incidem, até hoje em todos os aspectos das relações sociais. O discurso dominante desdenha as manifestações de inconformidade como sendo fruto de um complexo de inferioridade sem justificativa, já que a doutrinação oficial na opinião publica propaga o não acolhimento de praticas discriminatórias ou preconceituosas no seio da “Pátria Mãe Idolatrada”, com todas as políticas sociais flertando desavergonhadamente com o assistencialismo paralisante! O que não nos contam nas escolas versa sobre o fato de 65% da população carcerária ser negra, mais de 60% da população ser afrodescendentes e apenas 3,8% destes terem curso superior, e a política educacional federal prevê cotas irrisórias de 20% para negros e pardos, porque não se fala de uma ampla reforma educacional, onde os mais pobres (de novo, em sua grande maioria negros!) teriam uma escola PÚBLICA de qualidade para competir em pé de igualdade com os filhos da elite, na hora de prestar vestibular? Será que interessa ao sistema tanto excluído pensando a sociedade, propondo novos caminhos? Será que os filhos “dessa gente” merece algo mais além das vagas nas oficinas mecânicas, nos salões de manicure?
Por que na semana de consciência negra sempre é Zumbi dos Palmares, líder quilombola massacrado cruelmente, continua sendo o único exaltado? Temos que nos lembrar só de nossa dor? Onde fica o espaço reservado para os filósofos como Milton Santos, que dizia: “Ser negro no Brasil é frequentemente ser objeto de um olhar vesgo e ambíguo.“ E o lugar de escritores como Carolina Maria de Jesus, negra, favelada, que no exterior só perde em vendagem para Paulo Coelho e foi extirpada do cenário nacional por suas criticas aos governos militares? Transformar a data em reafirmação de identidade, hibrida que seja, seria mais proveitoso para nossa juventude que não se vê representada na política, na mídia e muito menos nos, e perante aos, corpos docentes de nossas instituições de ensino. Construir identidades passa pela herança cultural duramente aprendida e inventada, com valor reconhecido socialmente. Leva tempo e é conquistada com ação e reação, nesse âmbito nosso debate foi esvaziado por nossa própria ambiguidade. Aceitamos o lugar predeterminado, lá em baixo, e nos “comportamos”. Regozijamo-nos com bolsa-família, restaurante popular, aprovação automática e quase nos esquecemos que moramos em favelas, covardemente invadidas e fatiadas pelo mais forte, tendo por herói os policiais das Unidades de Polícia Pacificadora. Lá não pagamos IPTU, entretanto não temos saneamento básico ou projetos públicos permanentes para crescimento sustentável das comunidades, que realmente enfrentem as diferenças estruturais econômicas e sociais dessa ampla parcela do povo.
Aguardo o dia em que ser negro no Brasil seja simplesmente ser brasileiro, como queria o filósofo Milton Santos.


Denise Homem

http://www.antroposmoderno.com/antro-articulo.php?id_articulo=527 

http://erecomsalvador2011.blogspot.com/2011/02/mulher-negra-no-brasil.html 

18 de mar. de 2011

UNESCO DIVULGA RANKING GLOBAL DE EDUCAÇÃO



O Relatório de Monitoramento Global em educação da Unesco, relativo a 2011, foi lançado dia 1º de março em Nova York. No documento são analisados o desempenho anual de 127 países em relação às metas firmadas no documento Educação Para Todos (EPT) de 2000. Os líderes são Japão, Reino Unido e Noruega, respectivamente.
Brasil está na 88ª colocação, mesma de 2010, entre os países de nível "médio" de desenvolvimento na área e continua longe de alcançar o índice estabelecido para 2015 em relação aos seis itens a ser alcançados pelos membros: reduzir em 50% as taxas de analfabetismo, acesso universal à educação básica, ampliar a educação infantil, eliminar as diferenças de acesso ao ensino entre homens e mulheres, garantir o atendimento de jovens em programas de aprendizagem e melhorar a qualidade da educação. Segundo o coordenador de educação da Unesco, Paolo Fontani, o que atrapalhou o desempenho do país foi a dificuldade de manter as crianças na escola, pois a gestão da educação básica é municipal e estadual, causando dificuldades imensas de coordenação pelo governo federal. Com isso, na América Latina, o país está atrás de Argentina, Chile, Equador e Bolívia.